quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Lesão de Tornozelo em Atletas


Lesão de Tornozelo em Atletas

Por: Israel de Toledo - Brasil
Introdução
Nos vários anos de experiência profissional, tenho visto por inúmeras vezes profissionais da área da saúde, tratarem de forma inadequada, pacientes com alterações no retropé. São prescrições e confecções equivocadas de palmilhas ortopédicas, que atingem desde crianças e adultos à atletas esportistas, onde esses equívocos têm gerado mais complicações resultantes do que o tratamento esperado.
Apesar da má compreensão relacionada ao pé infantil, iremos abordar o pé de adultos esportistas e as complicações resultantes de um tratamento impreciso.
O Retropé
A articulação tíbio-társica representa o maior nível de recepção de cargas do pé humano, e esta tem influencia direta nos movimentos dos pés e conseqüentemente na postura do indivíduo. Trata-se também, da articulação intermediária para as alterações biomecânicas ascendentes para coluna ou descendentes para os pés. No retropé, pela carga lançada diretamente no tálus pelos maléolos tibial e fibular, a articulação tíbio-társica (que é o tornozelo propriamente dito), o encaixe tíbio-fibular, se acopla de maneira exata com o talus e assim, permite o movimento de flexo-extensão.
Se as cargas não estiverem harmoniosamente envolvidas com a biomecânica dos movimentos dos pés, podem gerar uma série de lesões, sendo que uma das principais lesões é a fratura por estresse, que representa 4,7% a 30% das lesões encontradas em corredores, a maioria na tíbia (49,9%), ossos do tarso (25,3%), metatarsos (8,8%), fêmur (7,2%), fíbula (6,6%), pelve (1,6%), sesamoides (0,9%) e coluna (0,6%).
Avaliações Imprudentes
Uma realidade lamentável é que poucos esportes são valorizados a ponto de seus praticantes terem acesso a equipamentos e principalmente a profissionais qualificados para uma boa avaliação ou mesmo orientação. Apenas poucos como o Futebol, Vôlei ou Basquete (e isto não são todos), tem tal recurso. Porém, esportes de alto impacto como o atletismo e suas muitas modalidades não o tem. A indicação Médica aos sedentários para adquirirem a prática de uma caminhada, tem gerado também um aumento expressivo do número de pessoas adeptas a este esporte.
Junto a esta realidade, corredores amadores ou mesmo os profissionais, tem muitas vezes buscado ajuda em lojas especializadas em produtos esportivos, atrás das ditas “avaliações biomecânicas” oferecidas nestes lugares. Com equipamentos aparentemente sofisticados ou no mínimo bonitos e impressionantes. Tais atletas são avaliados por profissionais não qualificados, aliás, em quase toda sua totalidade, são vendedores treinados pelas empresas a manusear equipamentos medíocres ou no mínimo imprecisos, que tem levado a indicações fraudulentas e inconseqüentes e sem nenhum critério clinico, onde seus resultados geram processos inflamatórios e lesões a estes atletas.
O Podólogo
Assim como ocorre em diversas partes do mundo, aqui no Brasil o Podólogo deveria se especializar na biomecânica dos pés, para fortalecer o número de profissionais competentes e qualificados a dar atenção a estes e outros atletas.
É certo que hoje o Podólogo já tem um amplo conhecimento dos pés, seja de forma fisiológica, anatômica ou patológica, e um grande número de Podólogos tem estudado e se especializado na biomecânica dos pés, porém, este estudo deve ser uma pratica habitual a todos e não a alguns. Pois o conhecimento diferenciado pela dedicação ao estudo dos pés, tem dado a este profissional uma capacitação cada vez maior para tratá-los de forma eficaz e responsável, como orientar seu paciente sobre o tipo de calçado adequado ou mesmo o estado biomecânico com as alterações e suas conseqüências, podendo orientar, tratar ou mesmo encaminhar este paciente ao Médico. Basta observar a evolução do Podólogo no Brasil, e facilmente veremos que este profissional é altamente capaz e futuramente será a profissão mais solicitada no que diz respeito ao tratamento dos pés; referente ao tema tratado, o Podólogo pode muito auxiliar o tratamento e mesmo a avaliação destes atletas.
Lesões comuns
No que se diz respeito ao tornozelo, as lesões mais comuns se devem ao varismo (fig. 3 – A) e ao valgismo (fig. 3 – B), podendo ser também aos pés desarmônicos. Tanto um quanto outro, geram alterações biomecânicas sérias com graves resultados.
O varismo cria um talus em varo e queda da articulação talocancânea lateral, provocando uma rotação externa dos eixos tibiais e femurais (fig. 1), alterando todo quadril e coluna conseqüentemente. Aumenta o arco medial levando este a cavo e supinando o antepé. Ocorre uma abertura da articulação talus/fibular e o pinçamento da articulação talus/tibial e é nesta hora que ocorre a fratura por estresse no choque do talus com o maléolo tibial.
O valgismo tem a conseqüência contrária do varismo, pois coloca o talus em valgo provocando uma rotação interna do fêmur (fig. 2), alterando o quadril e a coluna. O arco medial torna-se planovalgo e o antepé pronado. Ou seja, tanto o valgismo quanto o varismo, se houver uma carga muito grande ou mesmo o estresse repetitivo, poderá ocorrer uma fratura (fig. 3).
(fig. 1)
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(fig. 2)
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(fig. 3)
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Os pés desarmônicos são a soma de um valgo em um pé e o varo em outro. Com rotação interna do fêmur de um lado e externa do outro, ele pode ser ou não patológico na forma estática mas será certamente na dinâmica. Suas conseqüências vão desde dores musculares na panturrilha aos pés, pois sua alteração na postura é tão diversificada que suas conseqüências também serão.
Além disso, pesquisas revelam que lesões como fratura por estresse, condromalácia patelar, síndrome de estresse tibial (shin splints), fascite plantar e tendinite do tendão calcâneo ocorrem por uso excessivo e repetitivo de cargas nas estruturas do sistema musculoesquelético, são características em corredores de longa distância.
Fatores Importantes
Um dos principais fatores a se observar no tornozelo, não é se o atleta tem ou não um valgo ou varo, e sim, o grau de cada um deles. As alterações biomecânicas que eles desenvolvem; patologias associadas e sintomas apresentados. Junto com uma boa avaliação de anaminese, onde podemos traçar o perfil do paciente e com a soma dos resultados, prever futuras lesões. Feito isto, inicia-se o tratamento conservador.
Uma vez conhecendo as articulações do tornozelo, nunca podemos confundir um pé plano (que tem sua origem no arco medial) com um planovalgo (que tem origem no valgismo), pois esta é o mais comum dos erros cometidos por profissionais da área da saúde que tratam os pés e como seu tratamento são diferentes, o equivoco deste gera não apenas falha absoluta no resultado esperado, como também poderá criar um desvio muito maior nestes pés.
É importante reconhecer que não basta tratar a lesão ou mesmo a fratura, se não conhecer ou principalmente tratar a origem desta lesão. Que fique claro que não é com um tênis de última geração ou com uma avaliação simplória que ira se tratar o problema. Quando se refere ao tratamento conservador, referimos ao tratamento com uma palmilha ortopédica, feita sobe medida ao paciente após um avaliação biomecânica profunda, feita por profissionais qualificados como o Fisioterapeuta ou outro especialista em pés. Somente a palmilha terá a capacidade de alterar e redistribuir corretamente as cargas do pé. Não existe nenhum calçado capaz de obter o mesmo resultado, pois sempre haverá indivíduos que terão alterações de um porte em um pé, diferente do outro pé, transformando tratamentos de origem industrializada em verdadeiras utopias.
Das palmilhas existentes hoje no mercado, que tem resultados altamente positivos na redistribuição de cargas sem comprometer a biomecânica de um atleta, só aconselho a nova técnica de TOLEDO®, pois sua exigência na captação de informações biomecânicas somado a sua alta capacidade de absorção de impactos e precisão anatômica, faz desta técnica de palmilha, o que existe de melhor em palmilhas biomecânicas do mercado.
Diversos estudos têm comprovado sua porcentagem de resultados positivos, não apenas em atletas, mas no que diz respeito ao tratamento de patologias associadas aos pés.
Conclusão
Se ao observar o varismo, valgismo ou pés desarmônicos em seu paciente, identifique o grau desta patologia, se já existe seqüelas nas articulações, tendões ou processo inflamatório, se existe dor e sua intensidade. A soma de todas as informações, indicará qual tratamento a ser adotado ou mesmo se este paciente deverá ser encaminhado a outro profissional (junto a uma equipe interdisciplinar).
Independente de outro acompanhamento profissional interdisciplinar, este paciente deverá usar um par de palmilhas ortopédicas que o auxilie na reposição biomecânica de seus pés. Indico também que se faça uma avaliação de R.P.G (Reeducação Postural Global) para evitar, ou mesmo corrigir, eventuais seqüelas na coluna.
Profº Israel de Toledo
Podólogo; Ortesista; Especialista em Pés Diabéticos (H. Brigadeiro); Especialista em Palmilhas Ortopédicas (ABOTEC – Brasil e FLEXOR – Espanha); Autor da Técnica de Palmilhas TOLEDO®; Palestrante e Professor em Cursos de Palmilhas.
Bibliografia
1. SODRÉ, H.. Manual de Ortopedia, EPM, 1992.
2.BRICOT, Bernard. Posturologia, Icone,2001.
3.ÁLVAREZ, Miguel.Lesões nos Pés em Podologia Esportiva, Podologia hoje, 2005.
4.BEGA, Armando. Podologia Bases Clínicas e Anatômicas, Martinari, 2009.
5.SHIMIDT, Ademir.Estudo da Distribuição da Pressão Plantar do Equilíbrio Corporal em Corredores de Longa Distância, Unicamp,2006.
6.SIGNORINI,Leonardo.Corrida de Longa Distância,Medicina Esportiva Joaquim Grava,2005